o grotesco em miniatura
As gravuras de Márcio Pannunzio estruturam-se em torno de cinco características fundamentais: o tamanho reduzido, a saturação de elementos, a figura grotesca, o sentido oculto e a situação emblemática. O tamanho reduzido, unido à saturação de elementos, exige atenção redobrada, esforço perceptivo. Todas as gravuras do artista estão repletas de figuras distribuídas num pequeno espaço. O expectador é chamado, portanto, a exercitar uma forma de olhar diferente daquela em que a sociedade de consumo nos viciou; diferente do olhar que passa pelos outdoors da avenida, por cenas de televisão, rostos e pelos produtos do shopping. E o que têm estas miniaturas atulhadas de elementos a oferecer àquele que, paciente, as investiga? Não, certamente, a beleza amena das iluminuras. O que vemos aqui, pelo contrário, serão rostos e corpos distorcidos, animalescos, feios. Os amantes estão envelhecidos, o homem poderoso tem focinho, cerdas, presas, bico de abutre; os elementos arquitetônicos recordam o cenário de um filme expressionista. Ao observador que aceite assumir uma postura contrária à sugerida pelo universo de consumo, a gravura de Márcio Pannunzio coerentemente oferece o contrário desse mesmo universo. Nada está posto ali para descansar os olhos. Entretanto, o grotesco presente nas gravuras de Pannunzio nada tem de gratuito. Não se trata de mera oposição a um certo cânone estético. Cada figura sua tem um sentido preciso, posto que oculto. Braços esqueléticos se entrelaçam, retorcidos como cipós, ocultando o gesto a um primeiro exame. Será preciso, então, perseguir o caminho desses braços, verificar a qual corpo está ligada cada uma das mãos, distinguir o corpo dele do corpo dela. Desembaraçar fios.
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